
Marlom Nunes, funcionário de uma loja do centro de Teresina, aproveita o intervalo todos os dias, às 12h, e percorre 160 metros para desfrutar um momento de lazer. “É um projeto bacana, pois muita gente não tem condições e nem tempo. Então, ao colocarem as exibições em um horário acessível, no caso no horário de almoço de muitos trabalhadores do centro, fica bacana”, disse o vendedor.
Ele é um dos inúmeros trabalhadores do centro que possuem como rotina frequentar o Teatro Torquato Neto em seus horários de descanso, pois é neste espaço, localizado no Complexo Cultural do Clube dos Diários, por trás do conhecido Teatro 4 de Setembro, que acontece o projeto “É Proibido Cochilar”.
Em vigor desde 10 de janeiro de 2017, o projeto É Proibido Cochilar acontece de segunda a sexta-feira às 12h. Desde a sua fundação, o espaço já foi palco para inúmeros espetáculos e apresentações do ramo artístico e atualmente conta com a iniciativa de retomar a proposta.
“Estamos retomando o projeto que estava parado há mais de oito anos, não tinha nome para a sessão, eram só os filmes do Clube dos Diários. Pensando em dar um título e criar uma relação com o próprio homônimo do teatro resolvemos colocar ‘É Proibido Cochilar’, que tem relação com o Torquato Neto e com a sua poesia”, afirmou João Vasconcelos, coordenador geral do Complexo.
O local possui acessibilidade para cadeirantes e comporta em média cerca de 130 pessoas para a exibição dos filmes. Com a retomada da atividade e como uma forma de criar público para frequentar o espaço o projeto, na sua primeira fase, cobrava uma taxa no valor de R$3,50. Atualmente possui entrada franca e recebe cerca de 20 pessoas por dia. Além disso, a proposta é uma forma de valorizar o ambiente e que a população comece a frequentar o teatro. “Nosso público-alvo são os comerciários que estão num horário de descanso, de almoço e que não estão em casa, com isso temos uma forma de recebê-los. Sabemos que as pessoas têm medo de entrar no teatro, pois acham que é para a elite e não tem nada a ver, pois normalmente 90% de quem faz essas ações culturais são pessoas de origem simples. Mas, planejamos trazer de volta com este título (É Proibido Cochilar), com a proposta até que se forme esta plateia para não cobrar e sendo uma maneira de criar esta formação de público. Acredito que têm dias que estamos com o público bem pequeno, mas tem sessões que lotam, dependendo do filme”, disse Vasconcelos.
Mesmo o Teatro Torquato Neto encontrando-se numa localização central, muitos trabalhadores desconhecem a iniciativa e acabam inteirando-se a partir de amigos que também trabalham na região. Como é o caso de Emanuel Costa que através de conversas com a sua amiga Francisca Colasso, ficou sabendo do cinema. “Ele descobriu a iniciativa semana passada através de mim. Chamei ele: ‘ei, vamos para o cinema?’ e ele: cinema? Aonde? - Na frente do Banco do Brasil e logo me respondeu espantado, mas embarcou no convite”, disse a analista de crédito, Francisca.

Colasso ressalta também que descobriu a oportunidade de descanso através de uma amiga de trabalho e desde então sempre que tem chances divulga o cinema. “Fiquei sabendo através de outra amiga que trabalhava comigo, que me chamou para o cinema, isso faz um ano e meio, de lá pra cá já trouxe umas 30 pessoas. Eu amo este local, já trouxe várias pessoas, até os funcionários me conhecem e toda vez me veem trazendo alguém novo. Temos que ir divulgando para mais pessoas conhecerem a proposta. Antigamente quando comecei a frequentar aqui via apenas cinco pessoas entrando, agora são 15, 20 pessoas”, afirmou.
Já Emanuel acredita que o projeto foi uma visão diferente que os organizadores tiveram para os funcionários do centro de Teresina, onde além de reconhecer uma categoria que precisa de um lazer, é uma forma também de viabilizar a entrada em locais que não possuem muita frequência de públicos diferentes.
“Todos os dias passava aqui em frente e não imaginava que tinha algo assim, até conversar com Francisca. É uma boa forma de chamar público porque valoriza aqui. Também é algo que faz você descansar, faz você desfocar um pouco do seu trabalho e ficar um pouco mais leve para enfrentar o resto do dia. Eu já olho mais por esse lado, é algo que lhe desestressa”, conta o panfletista.
Para manter a operacionalidade diária do É Proibido Cochilar, o teatro conta com dois funcionários, o recepcionista e o técnico. Ou seja, as exibições permitem um baixo custo para o espaço fazendo com que o obstáculo principal seja a falta de plateia.
“Para a casa fazer as exibições praticamente não tem custo nenhum, então não há dificuldades. Talvez ainda não tenhamos alcançado é a plateia que esperamos ter. Precisamos somente de duas pessoas, que é o recepcionista da galeria e o operador, falta ter mesmo é uma resposta de público”, disse o coordenador geral do Complexo.
Por meio de spot, como uma das estratégias de divulgação, o cinema conta com o apoio da FM Cultura para dialogar sobre sua programação, onde dias da semana são destinados a diferentes segmentos do ramo do audiovisual. “No dia a dia colocamos filmes da safra brasileira que cresceu muito, mas diversificamos. É algo que já acontece na Casa da Cultura e estamos só expandindo, pois lá é noturno e o nosso é alternativo. Temos um apoio muito bom da FM Cultura, desde que começou a exibição, temos um spot que fala constantemente que nas sextas é dedicado para filmes de arte. Inclusive não precisa o filme ser atual, trazemos, por exemplo Casablanca, Bonequinha de Luxo, filmes dessa natureza”, ressaltou João.

Para os interessados em apresentar o seu produto audiovisual, João Vasconcelos, afirmou que o teatro é receptivo com produções independentes, como uma forma de evidenciar a importância de mostrar os trabalhos regionais. “Dentro da nossa sessão recebemos a Mostra de Direitos Humanos, também já recebemos um filme de São luís com atriz piauiense, Vera leite, que acompanhou a sessão. Já exibimos Mocambinho. Ou seja, exibimos o que é produzido aqui como uma forma de valorizar o nosso produto”, disse. Além disso, frisou que o projeto É Proibido Cochilar está progredindo e que pretende continuar com a proposta. “O ‘É Proibido Cochilar’ está em andamento e a nossa intenção é manter vivo, mesmo que as vezes tenha 12 ou 20 pessoas, não interessa, esse público vem e o projeto respeita e o considera”, completou. Por Maria Clara Morais
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