
No dia em que o presidente da república, Jair Bolsonaro, preferiu ignorar a realidade dos dados ao discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, dizendo que “nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente”. Mulheres campesinas da região do Médio Mearim/Cocais ocuparam as ruas da cidade de Lago do Junco, Maranhão, para expor uma realidade diferente e mais próxima dos números apontados por organismos de monitoramento ambiental.
“Ei, não derrube estas palmeiras. Ei, não devore os palmeirais. Tu já sabes que não podes derrubar, precisamos preservar as riquezas naturais”, entoavam em frente ao centro administrativo do município.
O ato foi parte das atividades organizadas pela Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais, de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues (AMTR), Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco. Fazem parte das ações alusivas ao 24 de setembro, Dia da Quebradeira de Coco Babaçu. Espaço de encontro, diálogo sobre questões que perpassam a luta das quebradeiras e reivindicação por políticas públicas no âmbito do governo federal, estadual e municipal.
“O Dia Estadual da Quebradeira veio pela reivindicação do MIQCB. Aqui em nosso munícipio começamos a fazer atividades. Na verdade não comemoramos. Vamos às ruas para reivindicar, protestar e incluímos também a alegria dentro desses trabalhos”, explica Maria das Dores Lima, a Dôra, presidente da AMTR.
Durante audiência pública, movimentos sociais e representantes do legislativo municipal discutiram os caminhos do Projeto de Lei que propõe o ensino da disciplina de agroecologia nas escolas da rede de ensino público de Lago do Junco.
Ricardo da Conceição Araújo, técnico da Associação em Áreas de Assentamentos do Estado do Maranhão (ASSEMA), entende que é necessário ampliar o debate, levando-o para outros espaços e incluindo atores sociais que não estão diretamente ligados à luta das mulheres e homens do campo. Ele explica: “a partir do momento em que se começa a trabalhar agroecologia na grade curricular dos municípios, estado, há uma sensibilização desde as crianças, na educação infantil, os adolescentes, ensino fundamental, e jovens, no ensino médio e na universidade. É por isso que a AMTR, nesse 7° encontro, traz essa reivindicação com todos os movimentos de base aqui no território”.

Sob o lema “Defendendo a vida, protagonizando histórias e reivindicando direitos”, as quebradeiras manifestaram insatisfação diante das políticas defendidas e implementadas pelo governo Bolsonaro, em contraste com os avanços sociais e ambientais obtidos nas últimas décadas. Queimadas dos babaçuais pelo fazendeiros, ameaça de morte a integrantes dos movimentos – foram algumas das situações elencadas. “O que tem de insatisfação nesse país não é pouco”, desataca uma das participantes da caminhada.
As centenas de vozes ecoadas cobraram “o acesso livre ao território, aos babaçuais, a preservação do meio ambiente, o respeito ao modo tradicional de vida e a necessidade de aprovação, com a intensa participação das quebradeiras, na confecção da lei do Babaçu Livre, que garante o acesso livre ao território e a preservação dos babaçuais”.
“A gente precisa da palmeira jovem, das pindobas. Por isso a gente está trabalhando o manejo do babaçu. Estamos aqui pedindo para os fazendeiros: façam isso junto com a gente que nós vamos ter dias melhores no nosso município, estado e país”, pontua a quebradeira Sebastiana Ferreira Costa Silva.

A luta das quebradeiras é também uma peleja dos jovens. Isso explica a participação da Patrícia dos Santos Lima. “A juventude tem um papel mobilizador”, argumenta. “É protagonista nessa luta, é uma força a mais para o movimento. Estamos comemorando o 7° Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco. A juventude está presente e devemos nos orgulhar”, pondera.
Por Joaquim Cantanhêde
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