(por Leila Coelho – estudante de Jornalismo)
No dia 15 de abril, recebi uma proposta um tanto inusitada e que me gerou interesse: produzir mini documentários para um projeto de extensão sobre formações políticas, que teria como foco narrar histórias de jovens pertencentes a projetos sociais e quais são suas perspectivas sobre essas iniciativas. A partir daí, nasce o “Sonhos em ação: jovens que transformam”.
A convite do Luciano Melo, para produzir esses mini documentários, me foi possível testemunhar um pouco da relevância e do poder transformador desses projetos sociais na vida desses jovens. Os projetos escolhidos para compartilhar um pouco de suas histórias e vivências foram: o Amigos do Livro e Outras Nuvens e a Batalha da Cultural. Por meio de entrevistas com os jovens que vivenciam essas iniciativas, pude ter contato com um pouco da essência de cada projeto e contar uma parcela de suas histórias.
O Amigos do Livro e Outras Nuvens se trata de um projeto de incentivo à leitura que ocorre na Praça São Raimundo Nonato, no parque Wall Ferraz. A iniciativa partiu do Luciano Melo e do João Pedro Veloso, que era seu aluno na época em que o projeto foi criado em 2016. Os encontros ocorrem aos sábados. As crianças se dirigem para praça, se unem em uma roda, leem livros, conversam sobre o que gostaram dos livros que leram e cantam canções; em outro momento, elas também praticam outras atividades, nas quais se expressam através de desenhos e aprendem se divertindo com jogos educativos. O projeto irá completar, em agosto, 8 anos de história que foi movida por muitos momentos que ficam na memória e por muito amor pelo projeto, tanto vindo das crianças que fazem parte dele quanto de seus voluntários, e pude testemunhar por um sábado a genuinidade desse amor que envolve o projeto.
Antes mesmo de sair do carro, eu já podia sentir esse amor espreitando logo à frente, essa energia calorosa vinha das crianças, que já aguardavam ali, ansiosamente, na calçada da praça, a chegada de seus amigos, os livros e os “tios”, como elas chamam os voluntários do projeto. Assim que coloquei os pés na praça, tive meu primeiro contato com uma grande quantidade desse amor e carinho que fervilhava nelas, assim que várias menininhas, sem ao menos saber quem eu era, me deram abraços calorosos dizendo “Oi, tia, prazer em te conhecer, tia”. Ali, instantaneamente, fui consagrada a nova “tia” e nesse momento tive minha primeira impressão sobre o Amigos do Livro e Outras Nuvens: a de ser um espaço de acolhimento e gentileza.
E as demonstrações de afeto ao projeto, vindo dessas crianças, não pararam por aí. Elas o demonstravam com cada atitude, ao ajudar os “tios” a organizar o espaço, com mesas e cadeiras e, claro, a infinidade de livros que mais tarde poderiam escolher para ler, como também na maneira que tratavam os voluntários e seus colegas e na maneira que olhavam para os livros. Tudo isso deixava nítido como amam fazer parte desse projeto, como respeitam e têm carinho pelos voluntários que os auxiliam nesta jornada de viajar por outras nuvens através dos livros.
Através do que experienciei e através do que foi contado pelos voluntários, Iara Patrícia e João Pedro, em entrevista para o documentário, foi possível notar que o Amigos do Livro e Outras Nuvens ressignifica pra essas crianças a experiência da leitura e, consequentemente, as vivências pessoais e sociais delas, dando a elas outra perspectiva de vida, na qual elas podem explorar e conhecer mais o mundo ao seu redor, expressar-se melhor e se desenvolver em um ambiente fundamentado em respeito, acolhimento, gentileza e amor. Ter essa experiência me fez pensar, na perspectiva da minha criança interior, como teria sido maravilhoso ter feito parte de um projeto como esse na minha infância. E desejei voltar a ser criança novamente, só pra fazer parte do Amigos do Livro e Outras Nuvens também; e na perspectiva da jovem adulta que sou, ver como esse projeto, além de transformador para as crianças, é também transformador para os voluntários, me fez querer me tornar uma voluntária também.
Foi possível identificar esses pilares — respeito, acolhimento, gentileza e amor — no projeto Batalha da Cultural, ao conhecer um pouco da sua história. O projeto visa através da arte do hip hop, levar cultura e a expressividade de jovens para a Praça Cultural do Grande Dirceu. O foco atual do projeto é promover competições de rimas. Infelizmente, eu não tive a oportunidade de participar de uma das batalhas, apenas ver vídeos e escutar o que esses jovens tinham a dizer sobre suas experiências. Somente isso já foi suficiente para notar o valor que eles dão para sua arte e para liberdade de expressá-la, e o quanto isso teve um poder transformador em suas perspectivas de vida.
Eu vi jovens orgulhosos de suas histórias dentro do projeto, falando e expressando sua paixão pela arte e pelo que fazem, contando como ser pertencente a essa iniciativa transformou suas vidas e deu-lhes um novo horizonte. Em meio a narrativa de suas histórias, eles ressaltam esses pilares: de como são acolhidos, de como se sentem respeitados, e, falam um pouco desse amor pelo projeto.
Dar voz, cor e movimento para essas histórias foi uma experiência que me trouxe uma sensação de conforto, pois todos os ambientes e pessoas que pude ter contato, tornaram essa experiência acolhedora e reconfortante. Todo o amor que essas pessoas têm pelos projetos dos quais fazem parte exalava no ar, era explícito, o que me fez sentir ainda melhor e mais motivada a dar o meu melhor. São histórias que merecem ser contadas, e ser vistas, para que as pessoas vejam o quão transformadores os jovens podem ser.
As pessoas precisam ver pessoas falando de suas paixões, como suas paixões mudaram suas vidas e como mudam a vida de outras pessoas, de outros jovens que se desenvolvem bem em sociedade em reflexo do impacto desses projetos sociais em suas vidas.
Fiquei feliz com o resultado desses documentários, pois a mensagem que eles tinham o intuito de passar foi passada. São jovens que transformam suas vidas e a de outros jovens através de projetos sociais. E sou grata por ter tido a oportunidade de ter essa experiência e de ter dado cor, voz e movimento para essas histórias através do meu ofício.
Ameiii