top of page
Buscar

Biblioteca e pessoas: campo de múltiplas vivências

Foto do escritor: Humanismo CabocloHumanismo Caboclo

Vamos iniciar nossa crônica com o título do livro de Shel Silverstein, "A parte que falta". Essas três semanas sem interagir com as crianças, nas praças de Teresina, fizeram falta. Falta de trocar com as crianças, de interagir com essa curiosidade vivaz e tão plena para explorar o infinito humano, de poder partilhar diálogos e experiências... Fomos recebidos na Praça do Santa Sofia com tanto afeto e alegria! Nossa gratidão! As crianças estavam tão eufóricas. No final: “tio, podemos ajudar a desmontar a biblioteca?”. Somente saíram quando fechamos a porta do furgão.



Educar é presença plena. Afetos, processos cognitivos, sociabilidades, conflitos... A integralidade de educandos e educadores participa de todo encontro nas praças. Tivemos uma alegria diferente nesta tarde: a visita de uma mãe com seu bebê (e a repetida indagação: “você vende livros?”). Bonito ver uma mãe mostrando alguns livros para seu filho. Mostramos tantas coisas para as crianças (celulares, brinquedos, alimentos...). E livros?



Na Praça dos Orixás, uma avó puxou nossa orelha: “vimos e não tinha o projeto!”. Kauã, Ana Grabriele, seu irmão Gabriel e o pai Alexandre, Heitor, sua avó e sua irmã, Maria Luiza... Uma biblioteca que conhece seus frequentadores e interage com seus familiares. Biblioteca “Leituras e Descobertas do Mundo” potencializa essa interação. Livros, emoções, trocas de palavras onde as narrativas, vivências e fantasias misturam-se numa complexa experiência comunicacional. Não somente lemos. Vivemos.



A avó de Heitor surpreendeu-se: “como as crianças gostam de desenhar!”. “Sim, vó, eles se expressam com sua criatividade, lidam com suas subjetividades e suas noções do que é belo”. Ele(a)s desenham com todo seu ser. Além de explorarem os prazeres da solitude. Vivenciam suas emoções. Compreendem-se. Expressam o que pensam e sentem. E como demonstram orgulho de seus desenhos (e de si)! Infelizmente, não temos como potencializar esses exercícios expressivos com o ensino de técnicas de desenho. Um dia, podemos ter voluntários da Arte Educação nas nossas praças. Fica o apelo.



Decreto esse final de semana como o mais alegre de todos! Quantos abraços e sorrisos ganhamos na praça do Parque Wall Ferraz, na grande Codipi. Todas as crianças queriam ajudar a arrumar nossa biblioteca. Toda essa generosidade e vontade de construir algo luminoso nessa tarde de sábado contrastava com o mato alto e sujeira na praça.

Tomei a liberdade de fazer um apelo: professores e equipe de gestão, levem seus alunos à biblioteca! Nossas crianças precisam aprender a ler. Mais: necessitam explorar seus gostos para ler. O único caminho é manter contato com livros. Serem valorizadas em suas descobertas como leitoras. Falar sobre os contos lidos. Partilhar suas impressões com seus colegas. Mas precisa haver um esforço dirigido e coordenado para tal intento. Vamos ler nas escolas!



Na manhã de domingo iniciamos a ocupação de uma nova praça – o Parque Ambiental da Macaúba, na zona Sul de Teresina. Gratidão ao seu Edvaldo e a toda sua equipe que nos acolheu e mobilizou crianças e pais! Como é bom ver pais e mães acompanhando suas crianças e incentivando-as a ler! Pai lendo para seu filho! Mãe fotografando o filho que lia! Mãe que assistia seu filho enquanto este desenhava! Pais e mães estreitando laços de afeto com seus filhos! [perdão por não termos registros fotográficas dessas experiências, mas a prioridade é sempre as crianças. E fomos agraciados com a presença de muitas crianças e não tivemos tempo para registros fotográficos].

Leituras e Descobertas do Mundo mostra que uma biblioteca numa praça é uma ação aberta a múltiplas vivências que só fortalecem as crianças. Uma mãe, ao final, elogiava nossa iniciativa. Ao voltar para casa me indagava: não seria esta uma das atividades primeiras e essenciais para toda(o) cidadã(o) – estimular o desenvolvimento de todas as crianças? Não devia ser uma atividade rotineira e prioritária entre todos nós humanos? Como fortalecer uma sociedade justa e democrática sem uma educação ampla, diversa e potencializadora do humano?



Uma mãe perguntou: “há quantos domingos a biblioteca vem para a Praça do Postinho?”. E ela se espantou quando a respondemos que já ocupávamos a praça há seis domingos. Esse espanto é uma constante. Como construir uma sociedade democrática e justa sem livros? Permitam-me a paráfrase, mas ler é um alicerce necessário para o desenvolvimento de pessoas sábias, tolerantes e cidadãs.

Nesta tarde, formaram-se grupos na nossa biblioteca. O grupo dos meninos do futebol que interrompeu o futebol para ler. Isso mesmo: interromperam o futebol para ler. O grupo de adolescentes e jovens. O grupo com dois irmãos. Cada grupo com sua dinâmica. Cada grupo vivendo, ao seu modo, a leitura. Cada grupo experimentando as muitas possibilidades de leitura e trocas numa praça.


0 comentário

Comentários


RECEBA AS NOVIDADES

  • Facebook
  • Instagram
  • YouTube

© 2019 por Humanismo Caboclo

bottom of page