A narrativa sobre o final de semana inicia com um encontro de uma criança com um livro. (PAUSA). A leitura, ainda sílaba por sílaba, era tocante. Tocava o olhar humanista de um educador. (confesso que sou um sentimental frente às crianças! Ainda mais diante de seus esforços e conquistas). Juntos, esforço e alegria pelas descobertas. Impossível captar as emoções desse menino mediante suas experimentações em meio à história. Mas era visível sua vontade de mergulhar na história. (PAUSA). Os risos. Os comentários. As alusões a sua vida. (PAUSA). Sim, lemos conversando a partir dos quereres do leitor.
Lembrou-me quando criança. Eu e os livros formávamos um universo singular. Eu lia e ria. Lia e me encantava. Lia e imaginava. Lia e me perguntava (PAUSA). Creio que assim me percebi como um futuro educador pois gostava de interagir com as palavras. Todo educador precisa apreciar uma certa intimidade com o campo dos signos. Este campo que se multiplica em meio ao olhar e às experiências de cada sujeito humano. (PAUSA). Em meio aos signos passei a ter uma noção do meu eu. Também compreendia os outros (ou, pelo menos, percebia que havia outros seres com outras ideias e atitudes).
Na praça dos Orixás sempre sinto as forças da natureza. Acredito que há energias invisíveis que vivificam tudo a sua volta. O universo está sempre em expansão. Na mínima praça teresinense, também o universo expande-se em meio aos movimentos de tudo. (PAUSA). Já me perguntaram por que razão deposito um cuidado especial à montagem de nossa biblioteca nas praças. Uma das razões ... (sempre há muitas razões...) é que depositamos energias para equilibrar aquele espaço de vivências. (PAUSA). Desejamos bem-estar e disponibilidade para ler-viver. Para tanto, o espaço precisa amparar-nos largamente nas experiências de cada ser humano-leitor.
As crianças descobrem-se lendo. Descobrem os outros conversando também. Hoje, Júnior leu para Maria Luiza e Kauã. Depois, chegou João que se somou ao papel de leitor. (PAUSA). Temos descoberto essa leitura colaborativa. Colaboramos com o ler, mas também com as impressões e juízos sobre os contos infantis. Ao ler, interagimos. (PAUSA). Creio que cada escritor(a) busca comunicar-se com pessoas-leitoras. Essa comunicação que aproxima e estimula infindáveis experiências do viver. (PAUSA).
Por vezes, como educador, fico somente observando as peripécias do pensar e do imaginar das crianças. Cada uma com seu olhar sensível e pessoal... (... sem palavras)... Creio que são momentos fabulosos do existir que tocam no “neutro” da vida (neutro é uma das formas de G. H., no romance de Clarice Lispector “A paixão segundo G. H.”, nomear o essencial da vida que não cabe em palavras pois estas, muitas vezes, impedem uma imagem plena do inefável). (PAUSA).
Outra expressão do projeto Leituras e Descobertas do Mundo são as rodas de diálogos e pensamentos na praça da igreja São Raimundo Nonato, no Parque Wall Ferraz. Nesses encontros de vivências, palavras e ideias, exercitam-se as expressões da fala humana. Crianças precisam explorar formas de se expressar e compreender o que acontece consigo e com todos que o cercam. (PAUSA). O que esses seres humanos sentem, pensam e experienciam precisa ser respeitado. Além do respeito, é nosso papel estimular a autoconfiança entre as crianças.
Por fim, a biblioteca vazia. O convite não correspondido. A presença ignorada. (PAUSA). Nas caminhadas da biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo há praças que carecem de insistência. Sim. Educar é um ato insistente dos sujeitos humanos. Assim como cada escritor insiste com as palavras e com suas aspirações. Como a professora apaixonada persevera insistentemente com os educandos para serem mais. Hans Christian Andersen, no conto “A borboleta”, escreve: “Mas simplesmente existir não basta”. (PAUSA). Há tanto a ser. Há muito a viver. Existir não basta!
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