Ao pensar sobre leitura, esqueça salões repletos de leitores. Infelizmente. Gostar de ler é um aprendizado. Precisa ser estimulado. Ainda mais nos tempos da cultura digital e global. Mas, como um visitante de nossa biblioteca comentou: “as escolas não sabem valorizar suas bibliotecas e muito menos o prazer de ler literatura”. E assim é o mundo; a escola é só um reflexo. Parece que ler, neste mundo globalizado, precisa cumprir uma “utilidade”. (PAUSA) . Ler não é “útil”; ler é vital. Faz parte do existir humano: conhecer, sentir, imaginar, registrar, pensar, emocionar-se... Ler anima a amplitude de todo ser humano. Experiências abertas à exploração humana infinita não são estimuladas em nossa cultura de consumo e de fast food (tudo rápido e transitório).
A experiência do ler é uma situação de encontro: encontro consigo mesmo (ideias, sentimentos, sensações, fantasias etc.) e encontro com o mundo a partir das provocações de cada obra literária. (PAUSA) . Ellen e seu irmão Felipe, final da tarde, na aprazível praça do bairro Santa Sofia, encontraram-se com tantas coisas inefáveis – enredos surpreendentes, suas próprias indagações, associações com suas experiências de vida, desenhos livres (“posso desenhar sobre o que quiser?”; “claro! O desenho é seu!”)... Não somos um roteiro fechado de coisas previstas e fechadas. Ao ler exploramos inúmeras trilhas do existir.
E o que dizer desse registro? (PAUSA) . Na ampla praça dos Orixás, com seu playground quebrado, no bairro São Joaquim, a avó Teresinha levou sua neta Maria Luiza para ler. Curiosidade? Um honesto desejo de ler? Procurou e encontrou um livro de seu interesse e... A imagem fala por si... Depois estava a trocar palavras com o educador (contou sobre sua neta, sobre si e sua forma particular de encarar as pessoas e o mundo...) . Uma biblioteca numa praça pública é também espaço de sociabilidades. Conversar, ouvir os pássaros, sentir a brisa refrescante, ler... Precisamos ocupar os espaços públicos e inventar significativas ações culturais.
Quando nos indagam sobre nossa metodologia para estimular práticas de leitura, respondemos que respeitamos cada pessoa e seus interesses. (PAUSA) . Aquela imagem de uma biblioteca silenciosa, com prateleiras alinhadas e com uma lógica alheia ao leitor desavisado, esta é desconstruída em meio às demandas de cada sujeito que faz nossa biblioteca. Assim como ocorreu neste último domingo na praça do bairro Anita Ferraz, zona leste de Teresina.
Biblioteca não é feita de livros, mas de pessoas e suas interações com as inúmeras possibilidades informacionais. Crianças pegavam os livros como se fossem brinquedos: ou pela gravura da capa, ou porque o coleguinha indicava. Alguns buscavam gibis. Outros queriam livros sobre animais; outras crianças buscavam contos de fada. Iam para as mesas e liam; ora mostravam as gravuras para os colegas. Outras puxavam uma cadeira para um canto solitário e liam. Precisamos respeitar essas relações pessoais de cada leitor com os livros. Ler é um ato de existir único: cada ser humano constrói um mundo próprio na sua interação com cada livro. (PAUSA) . Ler é uma jornada individual.
Essa biblioteca móvel!!! As crianças do bairro Anita Ferraz adoraram! As educadoras da catequese, nossas parceiras desse primeiro domingo, tiveram que fazer uma escala de horários para cada grupo de crianças poder usufruí-lo. Esse cantinho onde uma criança pode fazer um mundo seu. Ao ser pintado o seu interior e idealizadas as almofadas coloridas, imaginou-se um espaço lúdico para as crianças interagirem com os livros. Cada criança, ou grupo de crianças, experimenta aquele espaço e momento com suas subjetividades despertas. (PAUSA) . Ali elas habitam como são ou imaginam ser naquele momento e canto imaginário...
Quantas vivências nesse final de semana!!! Gratidão a todas as crianças! Gratidão aos seus pais e responsáveis! Daqui a sete dias, mais registros das experiências na Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo.
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