Infelizmente, há um forte caminho em direção à barbárie: ou acumula-se e mostra-se mais forte do que o outro, ou é eliminado. Neoliberalismo, meritocracia, mercantilização das pessoas e relações, consumismo, lei do mercado, tudo caminha para uma humanidade cada vez mais dividida e desigual.
O que esse ato semanal de ocupar uma praça, ler livros e trocar ideias e afetos nos diz diante dessa estrada autoritária e estrutural da barbárie? Primeiramente, é uma resistência ao utilitarismo do mundo das coisas. Lemos porque é prazeroso. Conversamos pois é saboroso. Imaginamos porque existimos também pela fantasia e emoção.
Segundo, contemplamos outros modos de viver nossa humanidade. Sem a disciplina angustiante, ou os tempos cronometrados, ou a expectativa de conquista do primeiro lugar. Vemos o sol se por. Sentimos a magia doce da natureza. Imaginamos em meio a palavras e figuras. Experimentamos a solitude ao sentar sozinho numa mesa e ler. Contemplamos o nada e o instante.
Terceiro, acolhemos tudo o que somos em curtos momentos de leitura. Ouvimos nossas inquietudes. Sentimos nossos interesses. Apreciamos nossas ideias. Debulhamos nossa infinita capacidade de imaginar. Deixamo-nos tocar pelos outros e suas histórias. Falamo-nos autenticamente. Vivemos instantes de si.
Quarto, ampliamos nossos modos de perceber e compreender o mundo e nós mesmos. A reflexividade de si. Ah, como é bom perceber-se plenamente. Não somente intelectualmente. Também pela intuição, memória, experiência... Abraçar nossas estranhezas. Sorrir para nossas ideias. Saltitar em meio as nossas emoções. Contemplar nossos medos e certezas. Enxergar o escuro. Não queremos somente o eu que nos ensinam. Exigimos um eu autêntico e pleno por meio do qual existimos integralmente.
Quinto, experimentamo-nos como atores públicos que se pensam no mundo e nas relações com os outros. Ao lermos, somos instigados a olhar com outros olhos, ver o que era invisibilizado, compreender outras realidades, refletir sobre as diversas configurações de um mundo desigual, partilhar utopias e projetos de justiça e fraternidade. Compreender que somos muitos, infelizmente desiguais e em relações injustas. Fazermo-nos sujeitos do mundo e comprometidos com uma ética planetária é condição para construção de uma humanidade solidária e justa.
Em suma, ser mais...
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