Pela manhã, recebi um bilhete de uma criança. Entre outras coisas, ela escreveu: “desde que entrei aqui minha aprendizagem melhorou muito (...) “melhorou 100% minha mente”. À tarde, outra criança expressou na roda de conversa: “Tio, o senhor ensina para a vida”.
Desde ontem estas pequenas frases não saem de mim (geralmente, escrevo a crônica no domingo. Não pense que é por sentir-me lisonjeado. Mas pelo forte compromisso ético que construímos entre educador e educanda(o)s.
Como ação do Humanismo Caboclo, a Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo orienta processos de descobertas de si. Os livros são iscas para o universo em construção do viver. As ações de nossa biblioteca não se encerram no livro. Pelo contrário, o livro e a criança leitora são o princípio. O devir é nossa matéria diária.
Outra passagem deste último sábado que não sai de mim é chegar na Praça dos Orixás, próximo de oito horas, com as gêmeas Maria Laura e Maria Luíza já me aguardando com sorrisos autênticos e estimulantes. Ajudaram-me a organizar a biblioteca por iniciativa própria. “Tio, que livro lindo!”. “Tio, não acredito!”. “Quero ler este livro!”. “Não, amei este!”. Maria Laura não cansava de maravilhar-se com livros. Sim, com livros. Quando tudo arrumado, não me largou mais: “Tio, vamos ler juntos. Tem muitas palavras. O senhor ajuda?”. E lemos... lemos...
Impressionou-me seu desprendimento com os livros novos que escolheu. Construções frasais e vocábulos complexos. Mas não demonstrava fadiga ou desinteresse. Ela vivia um deslumbramento todo seu.
À tarde, apareceu uma nova criança: Ítalo. Tímido e gentil. Observou nossa roda de conversa com aqueles olhos grandes que eu jamais saberia traduzir o que diziam. Mas estavam lá. No momento de leitura, sentei junto com ele imaginando que não sabia ler (possui seis anos). E lia compulsivamente. Um livro após o outro. Depois, no horário dos jogos, escolheu quebra-cabeças. Um. Dois... Como é bom presenciar esta vontade de ser. Uma vontade de viver o que aparece a sua frente com entrega e interesse sincero.
Denominei essa crônica como memórias pois hoje, mais do que nunca, escrevo com minha intuição genuína. Não como educador ou coordenador de projeto. Um homem simples que vive encantamentos em exercitar enlevos pela vida autêntica.
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