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Quando a fé está nas ruas

Foto do escritor: Humanismo CabocloHumanismo Caboclo

24ª Caminhada da Fraternidade leva milhares de pessoas para avenidas de Teresina (Foto: Joaquim Cantanhêde)

O mês de junho é escolhido para celebrar as manifestações de fé de cristãos católicos e evangélicos de diversas denominações e grupos. A equipe do site Humanismo Caboclo esteve presente em dois dos maiores eventos religiosos que acontecem nas ruas de Teresina todos os anos. Fomos em busca dos significados dos eventos Caminhada da Fraternidade (católicos) e Marcha Para Jesus (evangélicos), destacando especialmente o olhar de participantes que lotaram as ruas em milhares, demonstrando espiritualidade, alegria, coletividade e o sentimento de fazer as palavras de fé chegarem cada vez a mais pessoas.

24ª Caminhada da Fraternidade: uma causa abraçada

O sol não dá trégua, nem mesmo no domingo, dia 09 de junho de 2019. Incide com muita intensidade sobre a fé de milhares de pessoas. Uma multidão formada por crianças, jovens, adultos e idosos, composta por fiéis católicos reunidos em torno da Igreja de São Benedito, localizada na parte central de Teresina, dá início à concentração. Além da fé em comum, camisas os assemelham e nelas o tema do evento – “Abraço, nosso laço com o outro”. Foram muitos ao longo da 24a Caminhada da Fraternidade, organizada pela Ação Social Arquidiocesana (ASA), ligada à Arquidiocese de Teresina.

“Eis que hoje nós temos, no início dessa caminhada, marco que por 24 anos dá um toque particular à nossa arquidiocese, uma comunidade viva, comunidade em movimento, comunidade em caridade. Eis que temos a felicidade de poder, exatamente nessa solenidade de pentecostes, abrir nossa 24ª Caminhada da Fraternidade, coroando a semana de preparação a pentecostes”, destaca Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho, arcebispo metropolitano de Teresina, durante missa de abertura.

O calor, típico da capital piauiense, não foi mais forte que a disposição dos participantes em percorrer, após celebração, a avenida Frei Serafim, na direção Centro/Leste, passando pela avenida Raul Lopes e concluindo o trajeto sob a sombra da Ponte Estaiada João Isidoro França, pequena para abarcar pessoas vindas de diversos bairros da cidade.

A aposentada Maria José da Silva, residente na zona norte de Teresina, trocou a camisa branca, tradicionalmente usada na caminhada, por uma em verde e amarelo. “Foi o modo que eu achei de homenagear não só o meu país, mas também a seleção feminina. Elas podem sim conquistar esse título”, argumenta, fazendo referência à Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019.

O percurso é regido por cânticos tocados em trios estrategicamente posicionados. Outros veículos distribuem água aos participantes. O evento também conta com uma equipe de voluntários formada, em grande parte, por jovens que integram a Pastoral da Juventude.

24ª Caminhada da Fraternidade (Foto: Maria Clara Morais)

“Há 15 anos estou vestindo a camisa e acredito que seja uma causa que temos que abraçar como o próprio tema deste ano diz. É muito importante que a comunidade participe neste tipo de evento para ajudar as entidades”, disse a fisioterapeuta Sara Bonde.

A Caminhada da Fraternidade tem um objetivo social desde sua criação em 1995, quando adotou o tema “A Fraternidade e os Excluídos”. O sentido permanece o mesmo em 2019 e o abraço não é o único gesto manifestado em uma manhã de domingo diferente para fiéis católicos de Teresina e cidades próximas. Os recursos arrecadados serão destinados a casas de acolhimento atendidas pela ASA: destaque para o Lar da Fraternidade que há 24 anos cuida de pessoas portadoras do vírus HIV.

Tão vasto quanto o espaço ocupado pela caminhada é a compreensão de Ricardo Gomes sobre o ato. Participa pela sexta vez ao lado de sua mãe, Silene Gomes, e sua irmã, Lorena Gomes. “O evento é como se fosse um dia em que todo mundo se junta para caminhar pela cidade de Teresina, mas esse processo da caminhada, do abraço, do amor ao próximo não é só no domingo. Pelo contrário, deve começar bem antes, todos os dias. Você cuidando e amando seu próximo é uma forma da igreja estar presente, atuando na comunidade, principalmente para os mais pobres”, enfatiza Ricardo.

Fotos: Geici Melo/ Maria Clara Morais/ Joaquim Cantanhêde

 


18ª Marcha Para Jesus: liberdade conquistada na fé

A equipe escalada para a cobertura havia marcado encontro próximo ao Balão do São Cristóvão, local de concentração do público que iria participar da Marcha Para Jesus, no dia 20 de junho. Por volta de umas 15h, ao chegarmos lá, conhecemos uma mulher sorridente, de sotaque marcante, logo identificada como paraense. Daiane Dias, que reside em Caxias-MA, já frequenta a Marcha Para Jesus há três edições. “Eu vejo que esse evento dá um sentido e uma rotina que não é só ir para a igreja: é nos aproximar e conhecer o povo de Deus”.

Devidamente a caráter, com a camiseta que estampava o tema do evento, ela a vendia para quem passava pelo local, explicando que os valores se dividiam para ajudar nos custos dos vendedores e outros projetos sociais das igrejas, com destaque para casas de acolhimento a dependentes químicos. A conversa foi interrompida por Josué Fernandes, um jovem de 26 anos que estava sentado em sua moto, comprando a blusa da Marcha que tinha estampado em azul o nome “Liberdade”. Com um sorriso no rosto, ele nos contou que este foi o primeiro ano em que ele iria participar, “sendo realmente cristão”. Por isso estava comprando o item – uma forma de simbolizar que ele vestia literalmente a camisa de Jesus.

Venda de camisetas oficiais da Marcha Para Jesus. Fé estampada no peito (Foto: Joaquim Cantanhêde)

“É diferente você participar vestido com a camisa: você se sente parte dessa caminhada, junto com o restante do pessoal. Sem estar com a camisa, não tem tanta importância. Vai fazer um mês que eu me batizei. Na verdade, há um ano eu já havia aceitado Jesus, mas eu me distanciei, e agora eu me reconciliei com Jesus e estou firme e forte, graças a Deus”, contou à equipe do Humanismo Caboclo. Ele completa dizendo que “o Josué de antes morreu – sou uma pessoa transformada, liberta e curada”.

A Marcha reúne diversos agrupamentos e de todas as faixas etárias, mas a animação dos jovens é destaque. Todos devidamente uniformizados, seja com a camiseta símbolo do evento ou com algo preparado nas suas comunidades. Assim chegou o grupo de jovens da Igreja Evangélica Pentecostal do Brasil para Cristo. O objetivo, de acordo com uma das líderes, Fernanda Costa, era arrecadar fundos para a reforma do templo com a venda de água. Além disso, ela destacou a união que sente a partir daquela vivência. “A marca do cristianismo é união. Esperamos ver isso não só na Marcha, mas que essa juventude, maior parte do público, estenda isso para além do dia de hoje. Não é fácil levar a mensagem do Senhor Jesus, e ele disse que não seria fácil, pois teríamos aflições. Ele nos preparou para mostrar a luz que incomoda as trevas. E para levar sua mensagem devemos viver como ele viver, imitando o que ele falou, porque nosso testemunho impacta muitas vidas”.

O ponto de concentração com nome de santo, balão do São Cristóvão, de onde saem milhares de fiéis da Marcha Para Jesus (Foto: Ohana Luize)

Encontramos outro grupo de jovens que também apostou na venda de água. Animados com a nossa aproximação, já foram nos acolhendo com alegria, cantando, com palmas e sorrisos. Estefane de Almeida Burlamaqui é evangélica há cinco anos na Igreja Assembleia de Deus Missão Araguaia. Ela diz que “Cristo significa tudo, é minha base, meu alicerce, meu futuro. Tudo que preciso vem dele”. Reafirma a fé diante da nossa pergunta sobre o significado de sua participação na Marcha.

A espontaneidade em falar da fé também acompanhava Matheus Burlamaqui. “A fé é o firme fundamento das coisas que não se vê. Não vem somente gente da igreja, vem muita gente para ouvir uma palavra, vem ouvir um louvor. A nossa fé não é falar de Cristo, é viver Cristo. A nossa alegria, nossa força vem de Deus”.

Caminhando um pouco mais, deparamo-nos com alguns jovens que estavam com placas de cartolina em suas roupas. Intrigados, paramos para ver do que se tratava. Os jovens eram estudantes do curso de História, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), e estavam no local por outro motivo: conseguir arrecadar dinheiro vendendo água para pagarem as despesas como viagens e formatura.

Marianne Freitas, de 18 anos, disse que é uma oportunidade para conseguirem ter um caixa reserva já que, segundo a jovem, a universidade está em uma situação bem complicada. “A universidade não está podendo arcar com nada. Então, se quisermos viajar ou realizar qualquer atividade, temos que ter gastos”, falou. Mesmo não tendo um envolvimento direto com a Marcha, a jovem frisou que considera o ato uma forma de unir as pessoas. O seu colega Matheus Marques concordou. Para ele, é um momento de agir em comunhão. “Aqui é o momento para a galera se reunir, juntos em prol de Deus e Jesus também”, acrescentou.

Sorrisos abastecidos pela fé em Cristo (Foto: Ohana Luize)

E perto de um veículo (van), cheio de fiéis, fomos até o local para ver que história nos esperava. Então conhecemos Alexsandra e Thalia Dantas, mãe e filha “assembleianas” (termo usado para fiéis da Igreja Assembleia de Deus), que vinham com mais parentes de Altos para participarem do evento. Em entrevista, a mãe de 40 anos nos contou que participa da Marcha há cinco. “Minha família e eu nos preparamos todos os anos para vir para a Marcha Para Jesus, pois é um local onde você pode sentir a presença de Deus, onde você pode brincar, se divertir, gritar que Jesus é bom, que ele salva e liberta”, destacou.

A filha de 18 anos falou com propriedade sobre o assunto. Segundo a jovem, participar da Marcha não é uma perda de tempo, e sim um ganho na vida espiritual. “É uma forma da gente mostrar para o povo que Deus existe, que ele é vivo, e que a cada dia a gente deve marchar mesmo por ele, pois ele deu seu filho unigênito para morrer por nós e muitos não veem isso”, ressaltou.

Antes de subirmos em um dos caminhões de som para pegarmos algumas fotos do público, conversamos com o pastor Marcos Sérgio Barbosa de Oliveira, um dos organizadores, presente no caminhão “Zeus na Marcha para Jesus”. Para ele, o tema “Cidade Livre” significa livre de realidades como opressão, violência e suicídio. “É uma marcha que é aberta para todos os cristãos. Não é apenas para uma igreja evangélica. A ideia é levar à sociedade algumas demandas que a cidade tem”, disse. O pastor explicou que parte do recurso arrecadado nas venda das camisas, por exemplo, é destinado a entidades que trabalham com dependentes químicos.

Nas mãos de Ozano dos Santos Júnior o questionário aplicado aos participantes da marcha (Foto: Joaquim Cantanhêde)

Encontramos também Ozano dos Santos Júnior, 21 anos e estudante do curso de Ciências Sociais, mais especificamente, cristão. Ele, junto com outros jovens, disse-nos que não concorda inteiramente com o evento. De acordo com Ozano, há uma divergência entre seu pensamento e o pensamento visto por ele na Marcha para Jesus. “A igreja pode expandir um pouco mais. Não ficar apenas no lado espiritual, mas em ações sociais também. Como, por exemplo, em Teresina temos inúmeros moradores de ruas: pode haver um suporte. Uma igreja que é saudável espiritualmente, é uma igreja que é saudável socialmente também”, falou. Diferente da visão do jovem, a organização confirma a destinação de recursos para projetos sociais e para ajudar as igrejas envolvidas.

Em outro trio elétrico estava Paulo Júnior, baterista que dedica sua habilidade musical para louvar a Deus. “É uma satisfação muito grande de poder usar meu talento para ajudar a elevar o nome de Jesus, porque a nossa fé em Cristo é maior que tudo. A gente gosta de mobilizar as pessoas para entender que o evento em si é para todo mundo que vier para exaltar o nome de Cristo”, conta o músico que, após conversar com nossa equipe, voltou aos preparativos da apresentação para a multidão ali presente e, claro, para Cristo, como ele defendeu.

A história da Marcha Para Jesus em Teresina nos foi contada com mais detalhes pela pastora Liliana Oliveira, da Igreja Batista Filadélfia. “Começou como uma pequena marcha no bairro Dirceu, mas o nosso apóstolo Soares alargou sua visão para os decretos de benção na nossa capital. Foi muito sofrido e podemos dizer que o sucesso de hoje é fruto de muita oração. Alguns parlamentares, o governo estavam resistentes em aceitar a marcha, além do que chocava com um evento da Igreja Católica. Mas hoje a marcha se consolidou como um instrumento de levar adoração e celebrar o Cristo vivo, que viveu, morreu e ressuscitou por nós”.

A pastora ressaltou alguns pontos importantes do percurso da Marcha Para Jesus. “Em alguns pontos os trios elétricos param para liberar as palavras de benção sobre a Assembleia Legislativa, hospitais, sobre os empresários de Teresina, sobre o comércio... tem toda uma estrutura espiritual e que une muitas coisas boas para abençoar o povo de Deus”, completa.

Soldado Jessé Santos, integra a equipe de bombeiros que dão suporte ao evento (Foto:Joaquim Cantanhêde)

Quando o sol já estava dando lugar à lua e encerrávamos nossa cobertura, encontramos, o soldado Jessé Santos, de 25 anos, responsável, juntamente com uma equipe de bombeiros, para fazer os atendimentos na Marcha. Ele nos relatou que havia atendido duas ocorrências: uma criança de seis anos que se engasgou com pipoca e uma pessoa que havia sido mordida por um cachorro. Apesar de estar a trabalho, o bombeiro nos contou que, para ele, era bastante prazeroso estar na Marcha. “Eu sou cristão, da Assembleia de Deus. Para mim é como estar em casa, em família”, finalizou.

O tema da 18ª Marcha Para Jesus em Teresina foi Liberdade. O pastor Misael Marques, da Igreja Batista Nacional Nova Filadélfia, um dos representantes da chamada “Aliança de pastores” (é assim que os participantes chamam o grupo organizador das marchas), disse, com orgulho, de onde veio a inspiração para o tema. “Está escrito em João, capítulo 8, versículo 36, ‘Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres’. Somente Jesus pode dar essa liberdade, a verdadeira paz e alegria”, concluiu.

Cobertura da Caminhada da Fraternidade

Joaquim Cantanhêde

Maria Clara Morais Tarcísio Oliveira

Geiciane Melo

Cobertura da Marcha Para Jesus

Ohana Luize

Joelma Abreu

Joaquim Cantanhêde

Margella Furtado

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