Muitas pessoas indagam: para que esse projeto? Literatura não é fantasiosa? Não prejudica a formação do cidadão trabalhador? (PAUSA). Não existe ser humano sem fantasia. Seja a poesia, seja os contos populares e suas narrativas míticas, ou algumas expressões do religioso. Somos seres de imaginação. No próprio processo eleitoral em curso, quantas narrativas fabulosas! (PAUSA).
O que dizer dessas duas palavras que tudo deseja abarcar – “cidadão” e “trabalhador”? A infinitude humana aprisionada em duas palavras. (PAUSA). Somos seres políticos e produtivos. Alguns dos campos do viver. Mas... somos mais. Seres de afetos. Sujeitos criativos. Atores de ideias múltiplas. Criaturas éticas. Desbravadores de espiritualidades. Com corpos e desejos diversificados. Exploradores de linguagens. Criadores de inúmeras experiências culturais (esportes, religiões, redes sociais, tradições...). (PAUSA). Somos muito mais do que esses vocábulos procuram capturar. Talvez daí venha a inquietação com esse exercício humano de fruição literária, traduzida nas perguntas que abriram essa crônica. A apreciação literária é um experimentar aberto e avesso a capturas. (PAUSA). É uma navegação humana com cartas conhecidas e outras em construção.

Felipe leu no final da tarde, na praça do Santa Sofia (zona Norte de Teresina), o livro “O Polvocão”, de Martin Mckenna. Um menino que deseja um cão e ganha de presente um polvo sensível, talentoso e atrapalhado. Como é bonito ver os risos de Felipe ao ler a história! (PAUSA). No nosso trabalho, buscamos dialogar sobre as narrativas com os leitores. Quantas descobertas a partir desse (de)encontro de um menino com um polvo. Nas brincadeiras fantasiosas da literatura contemplamos outros modos de ver o mundo. Exercícios de estranhamento e ludicidade. (PAUSA).

Que falar desse desenho!? “Felipe, escolha aquela gravura que você mais gostou e faça um desenho. Do seu jeito”. (PAUSA). Durante mais de dez minutos, Felipe expressou sua visão do polvocão Jarvis e seu amigo Lucas. Explorar os traços, encontrar as formas, criar a partir de seu traço, inventar a partir daquilo que acredita e gosta... sem julgamentos... apenas um exercício pessoal de expressão... (PAUSA). Ao mesmo tempo, uma mamãe soim descia para alimentar-se de uma manga que derrubara. Seu filhote, longe do alcance do bote de um gato, aguardava-a num galho... E uma criança de se nha va. (PAUSA).

E Júnior? Lendo, lendo, lendo... Parece que, depois que superam a leitura sílaba por sílaba, as crianças descobrem um prazer de conquistar as palavras e as frases. Querem navegar em meio àquelas letras outrora enigmáticas. (PAUSA). Ler o mundo com seus olhos é um passo necessário para a formação da individualidade e da autonomia. A pessoa humana descobre-se em meio à contemplação de outras narrativas. Exercícios de alteridade antropológica.
Depois, na Praça dos Orixás, foram chegando mais e mais crianças. Os irmãos Isabela, Cauã e seu primo Artur. Os primos André, Kauã e Enzo. A Maria Luiza. O menino de cueca, João (ele anda descalço e de cueca pelas ruas). O Samuel, o desenhista ensimesmado e com um traço muito próprio. (PAUSA). Liam, dialogavam, riam, desenhavam, desenvolviam exercícios de aprendizagem... Já não era um biblioteca simplesmente. Um espaço onde crianças exploravam livros, desenhos e conversações e a si próprios. Um espaço daquelas crianças. (PAUSA).

À tarde, foi festa. A equipe do “Amigos do Livro e Outras Nuvens” promoveu um encontro com muitas brincadeiras para comemorar o Dia das Crianças. Apesar do apelo comercial das datas comemorativas, importante festejar a vida sempre. Nossos agradecimentos à marmoraria Polipedras que patrocinou os presentes que distribuímos. Quanta energia! Quantos sorrisos! Uma alegria infinita e neutra! Temos muito o que aprender com crianças! (PAUSA).

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