
Criado em fevereiro de 2005, o Parque Nacional Floresta dos Palmares é o primeiro Parque Florestal do estado do Piauí. O mesmo está localizado acerca de 15 km da cidade de Teresina e a 25 km da cidade de Altos, às margens da BR-343, nas proximidades da unidade prisional Colônia Agrícola Major César de Oliveira.
O Parque possui 170 hectares e grande diversidade na fauna e flora, por se localizar em uma área de transição entre caatinga e cerrado. Antes da criação do Parque, no local funcionava um posto de plantação de mudas, e hoje é uma área de proteção ambiental pertencente ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) que tem o objetivo de proteger os recursos naturais, manutenção das espécies nativas, promoção de pesquisas científicas e uma opção para quem busca relaxar nas grandes sombras das árvores.
Os visitantes, assim como nós, são recebidos pelo “Guardião da floresta”, como se denomina Gaspar da Silva Alencar, de 61 anos, administrador do espaço. Com serenidade no rosto, não perde tempo, fala com visitantes e faz suas atividades. Crianças correm de um lado para o outro. Durante nossa visita, um menino de pele clara, sujo de terra, de aproximadamente quatro anos, chama o guardião para jogar bola. Ele pede ao garoto tímido e sorridente que espere um pouco, enquanto nos apresenta o parque.
Em seguida nos leva para mostrar a sala onde acontecem as atividades com as crianças: poemas sobre amor, paz, natureza, fotos de pássaros, e galhos estão expostos em uma parede branca. Com grande satisfação, Gaspar fala do Projeto Socioeducativo Ambiental Palmares desenvolvido há 11 anos. “O projeto trabalha o ser integral, físico, emocional, espiritual, profissional”, diz.

A Floresta dos Palmares, através do projeto socioeducativo Palmares, atende cerca de 45 crianças e jovens, entre sete e 17 anos de idade, através das capacitações em educação ambiental, direitos humanos, ética e cidadania, combate e enfrentamento às drogas, defesa pessoal, música, língua portuguesa, matemática, informática e palestras sobre a escolha da profissão.
Com uma carga horária flexível, as aulas de capacitação são ministradas em sua grande maioria por profissionais que se propõem a fazer trabalho voluntário, nos 43 sábados anuais.
As atividades começam logo cedo, por volta das sete horas da manhã. Gaspar, em uma caminhonete, vai em direção à comunidade rural Soturno, para levar as crianças ao Parque. Outras crianças chegam de ônibus vindas das cidades de Altos e Teresina.
Com o grito de guerra “Mirins Palmares, disciplina, obediência, nosso lema Palmares”, as atividades começam. A primeira delas é refletir sobre os acontecimentos atuais em torno da sociedade, buscando explicações usando da Constituição Brasileira e da Bíblia. Gaspar explica que a grande pretensão “não é ensinar, mas fazer pensar, discernir e ponderar as coisas”.
Adriel Fernandes, de 12 anos, desenvolve várias atividades, como as de reconhecimento de rastros de animais nas trilhas para conhecimento da flora e fauna do local. “Aprendi coisas novas que não sabia, que vou usar no dia a dia, aprendi que se desmatarmos os animais não terão onde viver”, conta.
O conhecimento empírico também é bem-vindo às aulas. As crianças trazem conhecimentos sobre as plantas ensinados pelos pais. Após as atividades, o guardião não descansa, sempre que tem um tempinho, joga bola com as crianças e, após as aulas, leva os pequenos de volta para casa na caminhonete, com o sentimento de dever cumprido.
Acompanhamos os pequenos na volta para casa. Elétricos e animados, vivem uma espécie de aventura. Ao chegar à comunidade, Gaspar leva os três filhos de Francisca de Lourdes, de 37 anos, mãe de cinco filhos. Ela conta como é a rotina dos três filhos que frequentam o projeto aos sábados e domingos. “Dão um pouco de trabalho, por acordar cedo, mas são ligeiros! Lá aprendem mais, quando chegam, chegam com novidade é muito bom para eles”.

A casa seguinte é do garoto Isaac, o menino sorridente que gosta de jogar bola com o guardião. A mãe do garoto, Raquel Vieira, fala da dificuldade de criar as quatro crianças sozinhas. Para completar a renda ela vende tapetes.
As donas de casa, Francisca e Raquel, falam do medo deixar os meninos irem até a reserva, por causa da distância, e temem encontrar algum fugitivo da unidade prisional Major César, localizada nas proximidades.
Durante a viagem de volta, o guardião conta um pouco da sua história. Natural de Floriano, ex-vendedor de jornal (que começou aos dez anos de idade), formado em geografia e técnico agropecuário, tinha o sonho de infância em ser jogador de futebol profissional. Foi então que ingressou no serviço público no ano de 1983, na área de educação rural na Serra da Capivara e, em seguida, em Sete Cidades.
O homem sereno de conhecimento profundo sobre a floresta, política, filosofia e amante da arte, vê como missão cuidar da Floresta juntamente com sua esposa, Janete Alencar. Ele fala da satisfação em fazer parte da educação das crianças. “Eu durmo sonhando, é um projeto que erradia amor, e tudo isso é importante para que a infância dessas crianças não seja roubada. Ser honesto, não xingar, trabalhar em equipe e é essa lição que deve ser aprendida”.
O homem que sempre acompanha as decisões políticas do país, fala das dificuldades de administrar o Parque pela a falta vigilantes, recursos financeiros para manutenção do local. Outra questão preocupantes ao Gestor, é a atual administração do Ministério do Meio Ambiente que passa por uma nova reestruturação, como nomeação do novo presidente do ICMBio e três dirigentes, depois que Adaberto Eberhard pediu demissão. Além da proposta de fusão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) com ICMbio enfraquecendo as políticas públicas ambientais brasileiras.
Gaspar Alencar afirma que independentemente dos gestores é acima de tudo profissional, sempre trabalha com dedicação.
Sala Verde
No Parque também acontecem atividades do Sala Verde, projeto vinculado ao Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, com objetivo de implantar espaços socioambientais para a construção do pensamento/ação ambiental como explica a professora doutora Patrícia Maria Martins, coordenadora do projeto.“O intuito do projeto é trabalhar atividades de educação ambiental, com crianças e a comunidade em torno da Unidade de Conservação de forma complexa. A gente faz trabalho de sensibilização dividido em vários subprojetos, tem o pessoal que trabalha com viveiros, atividades lúdicas ar livre, basicamente é preservação e conservação da natureza por meios de ações educação ambiental.”

O projeto é desenvolvido pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), com estudantes do curso de ciências da natureza.
Dentre os subprojetos em funcionamento no Sala Verde, estão as atividades de artesanato desenvolvidas pelas estudante Ana Livia Solano e Suzane Nascimento. O subprojeto atende mulheres da comunidade nas produções de materiais como descanso de mesa, tapetes, potes, para geração de renda para as famílias.
“O objetivo é gerar renda, aliado à educação ambiental, para que elas entendam a importância de conservação do meio ambiente, e a importância do reaproveitamento de materiais presentes em casa” explica Ana Livia.

O estudante Yuri Araújo, que desenvolve o trabalho de conclusão de curso no Parque, observando as ações do Sala Verde, busca compreender a interação da comunidade com a Floresta Palmares. De acordo com a pesquisa do estudante, aplicada por meio de questionários, há pouca interação da comunidade, pela falta de conhecimento referente às atividades desenvolvidas. O estudante destaca que a maioria das pessoas pensa que as atividades são destinadas exclusivamente para as crianças quando, na verdade, são para toda a comunidade. O universitário fala da importância da comunidade como protetora da floresta. “O meio ambiente é comum a nós. É meu, é seu, e caso haja deterioração o problema é nosso, todos serão prejudicados”, opina.
Além das trilhas e sombras que atraem as pessoas para o local, no parque funciona um observatório de pássaros que recebe pessoas de outros países para admirar e também estudar espécies exclusivas da Floresta Palmares.
Por Joelma Abreu
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