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Foto do escritorHumanismo Caboclo

UM ESPAÇO PARA SER


Leitores, algumas vezes, fico sem saber o que fazer (este desafio é vivificante). Já escrevi inúmeras vezes sobre o quão valioso é o ato de ler. Talvez para não revelar uma outra verdade que incomoda (ou, na tentativa de desconstruí-la), mas, infelizmente, faz-se presente a cada encontro: a falta de concentração de algumas crianças leitoras (não peça para estabelecer um percentual pois não sou pessoa de números; costumo confiar na intuição e nas observações cotidianas).

Algumas crianças demonstram dificuldades para priorizar a leitura no tempo que definiram como momento voltado para ler (ou, simplesmente para estarem juntas com o “tio e tias”). Ora, vieram sonolentos (sábado pela manhã). Ora, estão inquietas, com mil palavras à boca (nestes momentos, trocamos algumas palavras com a intenção de compreendê-las e, em seguida, fazê-las entender que é preciso priorizar a leitura naqueles poucos minutos semanais). Ora, não querem ler (sim, duas crianças me falaram que não queriam ler. Certamente que não as obriguei a ler, mas fiquei intrigado).

Enquanto monto a biblioteca, pouco a pouco, um estado de prontidão instala-se em mim. Posso estar cansado ou com alguma questão me enredando, mas, após a instalação da biblioteca, já estou num estado de disponibilidade para viver aqueles sessenta minutos com as crianças leitoras. Talvez, neste momento que escrevo a crônica, compreendo que há sábados que temos somente crianças. As leitoras estão adormecidas em alguma narrativa fantástica das crianças. Melhor, sempre temos somente crianças. A “leitora” é mais uma imposição de um projeto educativo cartesiano que, por vezes, incompreende que somos seres essenciais.


Sim. A cada sábado encontro-me com crianças. A Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo não é um espaço de leitura com leitores absortos. As pessoas não obedecem a parâmetros e planos racionais previamente definidos. Para além de um espaço de leitura, a nossa biblioteca se constrói pelas crianças que a fazem existir todo sábado como um campo de existência onde elas expressam o que são e sentem (ah, o “ser”!). Uma nova designação: a BLDM é um espaço para ser.

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