top of page
Buscar

Agroecologia e o bem viver

Foto do escritor: Humanismo CabocloHumanismo Caboclo

Grupo de Mulheres Bordadeiras do Parque Piauí (GMBPA) (Foto: Ohana Luize)

Apesar de os debates sobre alimentação saudável e valorização das pequenas iniciativas de geração de renda estarem mais popularizados, a reclamação com os preços altos e qualidade duvidosa dos produtos são constantes. Para completar, foi divulgado que, nos primeiros quatro meses desse ano, o governo Federal bateu recorde na liberação de agrotóxicos com novos 169 produtos autorizados. Parece que equilibrar alimentação e saúde anda um pouco difícil. Mas comer é também viver, é celebrar os espaços, as companhias e as conversas – tudo que passa pela cultura e identidade de um povo.

“É preciso ter conhecimento de onde vêm os alimentos e promover um acompanhamento social, técnico e econômico sobre as comunidades produtoras do que imaginamos como ideal de uma promoção de bem viver com saúde”. Essa declaração da professora Valéria Silva dá indícios sobre o conceito de agroecologia. “Estamos falando de alimento livre, sem veneno, discutindo a gravidade do agronegócio que destrói nossos biomas. Agroecologia não é só produção de alimentos; é a defesa do bem viver de todos e todas, produção de igualdade de gênero, oportunidade para os jovens, preservação das culturas tradicionais, demarcação de terras indígenas. É legitimar os espaços com pessoas e a promoção de troca de saberes”, completa a mestra em Ciência Política, doutora em Sociologia Política, pós-doutora em Agroecologia e Comunidades Rurais, membro do corpo docente da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Com o pensamento de valorizar a alimentação e o contexto em torno dela, acontece a Feira de Base Agroecológica e Cultural - Sementes de Cultura. O evento acontece na UFPI e envolve um conjunto de ações de produção de alimentos, fortalecimento da agricultura familiar e de pequenos produtores, cultura, valorização de saberes e geração de renda. Nos encontros realizados sempre nas manhãs da 1ª e 3ª sexta-feira de cada mês, no Espaço Rosa dos Ventos, não há carrinhos ou lista de compras pré-definida, mas uma variedade de produtos alimentícios, artesanais e saberes apresentados por acadêmicos e representantes de comunidades rurais.

Roda de conversa debatendo agroecologia (Foto: Ohana Luize)

Uma das produtoras participantes é Joana Pereira. Ela coordena o Grupo de Mulheres Bordadeiras do Parque Piauí (GMBPA) e se orgulha ao falar do trabalho desenvolvido com suas companheiras de arte e vida. “O nosso grupo começou atendendo mulheres vítimas de violência doméstica para começar a trabalhar e desenvolver uma economia solidária. Com isso passamos a trocar informações e capacitações para viver todo esse contexto que o mercado requer. Dividimos os recursos, os trabalhos, as vendas e encomendas”, explica.

A professora Valéria diz que a valorização das economias locais é uma forma de promover justiça social. “Quando eu compro alimentos ou produtos na Feira UFPI, estou injetando renda para Teresina, estou gerando renda para famílias rurais, mulheres de meia idade que estão trabalhando com distribuição de renda. Teresina produz muito pouco, produzia quase nada, sendo que temos uma das maiores áreas rurais do Brasil enquanto capital. Só precisamos reunir as organizações para fortalecer essa iniciativas”.

Além de reunir professores e produtores das diversas comunidades que expõem na Feira, o espaço é aberto para as contribuições de estudantes. A relação ainda é de troca de saberes. O estudante José Teixeira, que cursa Engenharia de Materiais na UFPI, explica que o trabalho despertou sua atenção para os debates em torno da agroecologia. “Eu trabalho com resíduos e com a questão dos descartes dos matérias, impacto no meio ambiente. Antes eu não tinha conhecimento sobre agroecologia. Então fui participar do evento, até de modo aleatório, depois comecei a participar. Percebi que aqui eu passei a prestar atenção nas coisas”.

O projeto Sementes de Cultura (UFPI/PREX) acontece por meio do Programa de Extensão Sementes da Cultura. Conta com diversos parceiros como as demais Instituições de Ensino Superior do estado do Piauí, órgão públicos ligados a questões de agricultura, meio ambiente, reforma agrária, assistência social, desenvolvimento rural e diversos pesquisadores.

Keline Carvalho foi conferir a Feira e destacou como é importante o exemplo ser espalhado por outras cidades. “A cada quinzena sempre venho comprar rúcula, manjericão, hortelã, alface. O preço é bem justo e mais barato que em alguns supermercados”, conta. Quem passa por ali, costuma parar, ouvir um pouco da música ambiente e sempre sai com alguma aquisição incentivada pela simpatia dos vendedores. É um evento até mesmo cultural. Música nordestina, slam, poesia, artesanato, pinturas, tudo se mistura provando que agroecologia vai além da pauta de alimentação saudável.

Por Ohana Luize e Joelma Abreu


 

Galeria


Fotos: Ohana Luize/ Joelma Abreu

0 comentário

Kommentare


RECEBA AS NOVIDADES

  • Facebook
  • Instagram
  • YouTube

© 2019 por Humanismo Caboclo

bottom of page