As chuvas são nossas irmãs. Numa praça, vivificam toda a vida a nossa volta. Na praça do Santa Sofia recebemos a bênção da chuva ao concluir os trabalhos da biblioteca. Felizmente, já aprendemos a conviver com a chuva. Não brigamos com a natureza. Dialogamos e buscamos equilíbrio
Numa tarde de águas, lemos o “O Livro das Virtudes para Crianças”, de William J. Bennett, “Emocionário: diga o que você sente”, de Rafael R. Valcárcel, “Boladas e amigos”, de Ana Maria Machado... Conversamos sobre a virtude da generosidade, a emoção da solidão e da saudade, e, sobre o respeito entre amigos... Não se lê tão somente para aprimorar a habilidade ou conhecer novos vocábulos. Lê-se para viver. Viver plenamente. Compreender as emoções. Conhecer outros modos de ser. Refletir sobre nossas vivências. Rir. Fantasiar... Humanamo-nos...
Mais felizes ficamos ao final de nosso encontro. Helen já se habituou a escolher seu livro para ler em casa. Maria Luiza surpreendeu-nos com a escolha de dois livros: um para ela e outro para seu irmão. Felipe, todo contente, com o livro “O filho do Grúfalo”. Com a assiduidade de nossos leitores, passamos a emprestar os livros de nosso acervo. Ler em casa deveria ser incentivada por todas as bibliotecas escolares. Afinal, na escola que estimulamos o mais luminoso do humano.
Ana Gabriele chegou bem cedo com seu avô. Ajudou-me a montar a estrutura da biblioteca. Contou, orgulhosa, para Isabela que chegou mais tarde: “eu ajudei!”. Ela leu um livro sobre bondade. Depois, realizaram uma leitura conjunta de um livro de Ana Maria Machado. Wilson Kauan e o Kauã estavam sonolentos. Uma leitura preguiçooosa. Propus aos quatro uma brincadeira para estimular a decodificação dos signos linguísticos e, ao mesmo tempo, brincar com o ato de ler. Cada criança com um livro: todas leem em voz alta e ao mesmo tempo. Em seguida, propus que, quando o nome de uma criança fosse invocado, esta começasse a ler em voz alta. Ao chamar um segundo nome, a anterior interrompia a leitura para dar vez a outra. Liam e riam, mas também buscavam focar a atenção para a tarefa proposta.
Kauã pediu para levar um livro para casa. Wilson Kauan não queria tomar emprestado, mas insisti. Penso que educador precisa insistir com algumas atividades. Sem julgamentos. Apenas reforçar a importância da leitura para o desenvolvimento integral da criança. As distorções entre competências leitoras e série ainda são muito notórias entre uma parte significativa das crianças que frequenta a biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo.
A turma do “Amigos do Livro e Outras Nuvens” exercitou bastante o pensamento através do diálogo. Conversamos sobre ética, cidadania e autoestima, informalmente. Não gostamos da ideia de “conteúdos” nas nossas rodas de conversa. Apenas fluímos com as ideias. Ideias extraídas das experiências do viver. Importante olhar para as vivências e aprender, construir novos sentidos, mudar atitudes e visões, usufruir de toda as potências humanas. Nada daqueles esquemas disciplinares de pensamento. Apenas um pensar existencial e significativo.
Uma biblioteca, numa praça, num final de tarde... O que pode ocorrer? Primeiro, uma mãe e um pai que trazem seu garoto para ler. Segundo, quatro coleguinhas que brincavam na praça perguntam se podem ler. Terceiro, um outro casal traz seu bebê para descobrir livros... Essas são algumas das possibilidades que vivenciamos na praça do Postinho, no bairro Tabuleta, zona sul de Teresina. Que venham novas vivências de leitura e encantamento! Que naveguemos outras trilhas de humanização!
Comments