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O que você faria se seu salário atrasasse quatro meses?

Foto do escritor: Humanismo CabocloHumanismo Caboclo

Reunião com representante do SEEACEP (Foto: Joelma Abreu)

“O trabalho enobrece o homem” é uma das frases mais famosas sobre a relação do ser humano com o ganha-pão de todos os dias. Mas o que fazer quando a relação do trabalho e o homem não é tão enobrecedora quanto a frase mencionada pelo sociólogo Max Weber? Em muitas partes da sociedade o trabalho não enobrece, pelo contrário, reprime, faz sofrer, deixa doente e dezenas de pessoas com barrigas vazias.


Esta matéria não é um texto que visa mostrar a relação do trabalho ao longo da história, mas visa mostrar a relação do trabalho com a não recompensa salarial: o caso de trabalhadores terceirizados que prestam serviços à Universidade Estadual do Piauí (Uespi), que denunciam atraso salarial de quatro meses.

Vem a seguinte pergunta: “como você faria para pagar contas de água, luz, comida e mantimentos para sua casa se não recebesse salários por quatro meses?”.


É fácil encontrar nos corredores da Uespi pessoas na situação mencionada. O lamento comove a todos: pais de famílias desistem de projetos, perdem as esperanças e é impossível não refletir sobre a situação de extrema precariedade vivida por cada um dos funcionários. Uma delas é dona Vanda Maria que conta a situação da sua casa com os atrasos salariais


“Está tudo atrasado, meus cartões já estão todos bloqueados, água e luz estão cortadas, estamos sem nada, estamos usando luz de vela mesmo. Está uma situação muito difícil, meu gás acabou hoje e não sei como fazer. Eles estão colocando só os passes (refere-se à empresa a qual presta serviço) para a gente vir. Estamos igual a escravos, não temos o que comer”, relata Vanda.


Essa não é a primeira vez que a situação acontece. No início deste ano, a empresa também atrasou os salários e tiveram momentos que os estudantes fizeram cestas básicas para os empregados terem algo para comer, como na Semana Santa.


Uma alternativa é aumentar as contas nas cantinas dos conhecidos pela universidade. O porteiro Francisco José presta serviço de lavagens de pratos na Cozinha Comunitária, da Secretária Estadual da Assistência Social (SASC), que funciona dentro da Universidade. O serviço serve para que ele garanta a alimentação para cumprir seu horário de trabalho.

Francisco está com quatro meses de salário atrasado (Foto: Joelma Abreu)

“Eu preciso ajudar na cozinha comunitária para conseguir um prato de comida, por conta desta situação de não estar recebendo. Estou lá na cozinha ajudando para ganhar o almoço e levar o que sobrar para jantar em casa. Estou com tudo atrasado em casa: água, luz e não tenho o que comer”, conta.

Em meio à situação, no dia 09 de julho, os terceirizados resolveram fazer paralisação por tempo indeterminado, após um documento entregue à reitoria da universidade. Esta informou, em nota, que realizou todos os procedimentos que competem à instituição e fez previsão que o governo repassaria pagamentos para a empresa dia 10 de julho. Segundo os terceirizados, não foi realizado o depósito.

A paralisação não durou muito tempo e voltaram novamente a trabalhar sem receber nenhum salário prometido. Muitos dizem que o sindicato que os representam não tem voz.

Documento entregue à universidade (Uespi) no dia 10 de julho (Foto: Joelma Abreu)

No dia 10 de julho, a reportagem entrou em contato com a empresa Limpel Serviços Gerais para saber o posicionamento. Uma pessoa, que se identificou como Mayara, falou que o depósito de dois salários seria realizado no dia 12/07 (sexta-feira) e não poderia falar sobre a situação. Segundo os funcionários, não foi realizado. Outra vez, ligamos para a empresa dia 16/07 (terça-feira), e fomos informados que os salários atrasados correspondiam a apenas dois meses e não quis se pronunciar sobre os demais relatos.


O sindicato

Maria José Mesquista da Silva, presidente do Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação, falou da situação. “Todos estão passando fome, necessidade, desesperados porque estão há quatro meses sem receber salários e a Uespi é conivente com a situação porque não passou nenhum posicionamento sobre esse contrato da Limpel. Então, fica ruim para os terceirizados trabalhar sem receber. Iremos entrar com documentação junto ao Ministério Público e do Trabalho”.

Em meio a tantos lamentos, a dúvida surge: qual instituição estaria desonrando com os salários dos terceirizados? O governo estadual, a Uespi ou a empresa Limpel? O que se pode verificar é que no final dessa cadeia, quem realmente sofre são os trabalhadores que acordam cedo com a pretensão de ganhar os seus salários no fim do mês e não ganham.

Em meio a situação, surgem iniciativas como a promovida pelos os Centro Acadêmico de Psicologia, da Facime, que promove nas redes sociais campanha de arrecadação de alimentos durante este mês de julho em prol da pessoas que tornam a Uespi mais agradável. Por Joelma Abreu

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