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Vila Pagã: uma semente de fé e misticidade no coração do Nordeste

Foto do escritor: Humanismo CabocloHumanismo Caboclo

Alguns dos antigos povos do Piauí viviam de forma harmoniosa com a natureza através do reconhecimento de antigas divindades. Segundo os ensinamentos e fé da vertente do paganismo piauiense, ancestrais conhecidos como “piagas” eram possuidores de grande sabedoria e deixaram forte herança cultural, histórica e sagrada. No interior do estado, onde a fé da religião politeísta inegavelmente nativa da região, essa herança permanece viva se resguarda em um misterioso recanto místico.


Na saída de Teresina, logo após algumas estradas de terra e pequenas comunidades, a vila pagã se localiza na zona rural do município de José de Freitas. O santuário politeísta, que também funciona como colônia, é uma área de preservação ambiental e cultural.


A cultura dos piagas já pode ser observada na entrada da vila (Foto: Aline Sousa)

O local, repleto de plantas e imagens sagradas cuidadosamente espalhadas, chama a atenção. É uma forma da comunidade piaga demonstrar o respeito e devoção pela crença pagã. Com um templo onde se realizam celebrações e rituais sagrados, o lugar, que é frequentemente visitado por estudantes, pesquisadores, jornalistas ou somente curiosos, tem a missão de fazer uma conexão entre ciência e espiritualidade.


Rafael Nolêto, escritor, jornalista, sacerdote e fundador da vila pagã, explicou que o santuário nasceu de um antigo sonho em possuir um espaço preenchido pela natureza onde adeptos do paganismo se sentissem mais confortáveis e conectados com a religião.


Rafael Nolêto, fundador da vila pagã, em momento de ensinamentos durante celebração (Foto: Aline Sousa)

Existia ainda a necessidade de formar uma identidade grupal pagã através de uma vertente regional, onde não só entidades estrangeiras seriam cultuadas, mas também as entidades locais: “Comecei a buscar terrenos disponíveis para compra, pois um problema que eu via era a inexistência de uma comunidade pagã no Piauí. Apesar de vários adeptos, não existia a identidade dessas pessoas enquanto comunidade, era tudo muito disperso”, comentou.


A consolidação da vila aconteceu, então, no ano de 2014, dando início às celebrações da comunidade que são realizadas ao longo de todo o ano e seguem o ritmo da natureza local, sendo baseadas nas tabelas climatológicas. O Humanismo Caboclo participou da Neptunália, umas das muitas festividades que acontecem na vila.


Altar com imagens sagradas durante a Neptunália (Foto: Aline Sousa)

A celebração tem origem na Roma antiga e honra o deus estrangeiro Neptuno. Em uma nova roupagem idealizada por Rafael Nolêto, também celebra outras entidades das águas nativas do Brasil.


Dentro do templo, a celebração se inicia através de um ritual de purificação e honra a algumas entidades pagãs. A reunião é repleta de cânticos, leituras, danças e outras interações. Seu objetivo é proporcionar a conexão dos adeptos do paganismo às divindades que resguardam as águas.


Momento de fé e devoção ás divindades das águas dentro do templo durante celebração (Foto: Aline Sousa)

Maria José da Conceição, moradora da comunidade piaga de 32 anos de idade, integrou-se na vila aos poucos. Começou no local sendo a responsável pelos cuidados das plantas e, no início, tinha uma resistência a conhecer mais sobre a fé dos adeptos do paganismo. Mas, após se permitir saber mais sobre a religião e se identificar com os ensinamentos e devoções pagãs, Maria se tornou uma piaga:


“Minha mãe sempre participava dos encontros e me convidava para que eu também fosse, mas eu não aceitava. Aí decidi vir a primeira vez, gostei e comecei a frequentar a vila, sempre. Foi muito tranquilo”, comentou.


“Conhecer as pessoas responsáveis pela vila pagã mudou a minha vida. Através da religião, eu tenho entendido algumas coisas que aconteciam comigo e eu não sabia do que se tratavam, eu não sabia o porquê. Mas agora fazem sentido e eu já sei lidar. Minha vida mudou para melhor”, afirmou Maria.


Organizadores e visitantes da vila pagã após a Neptunália (Foto: Aline Sousa)

Lutando também contra conceitos pejorativos e pré-estabelecidos, na tentativa de desmistificar alguns preconceitos acerca da religião, os piagas se abastecem de muita leitura e inegavelmente de uma enorme fé. Com o objetivo de devolver a sacralidade que foi retirada de seus mitos, símbolos e locais sagrados, o paganismo piaga busca identificar, resgatar e valorizar sua herança ancestral sagrada.


Por Aline Sousa

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