CONFIAR NAS CRIANÇAS

– Tio, a biblioteca da escola não é que nem a do projeto. Aqui, eu posso levar livro emprestado. Lá, não.

Outra criança comentou.

– A escola não confia nas crianças.

Um conjunto de escolas que não confia nos seus educandos. Pelo menos, na percepção das crianças. Como? Educar não é fomentar entre crianças o seu melhor e desenvolvê-las de modo integral? Como não educar a serem responsáveis? Como fazê-las curiosas e sábias sem a prática rotineira da leitura?

Este tema já foi objeto de algumas crônicas. Mas sempre gera decepção e indignação. É possível educar crianças com o freio de mão da desconfiança acionado? Como essas crianças podem fazer-se mais confiantes e interessadas sem a fé de adultos e educadores? Que segurança emocional pode crescer num ambiente dominado pela desconfiança e dúvida?

Uma das razões que nos motivou a criar nossa biblioteca foi a fé cega nas crianças. Quisemos construir um espaço com as crianças onde elas pudessem se sentir à vontade e dispostas a viver suas vontades, sonhos e desafios com credulidade e sabedoria. Antes de qualquer não peremptório, são acolhidas com um “vamos tentar”. Não é simples, pois, algumas chegam com algumas autopercepções negativas: “sou burro”, “não aprendo”, “é difícil”, “não sei”.

A Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo busca dialogar com as crianças, fazê-las refletir sobre as possibilidades e estimular sua autoconfiança. Para tanto, jamais parte de uma suspeita prévia de que ela não é capaz de ser responsável por um livro. Como minar a autoestima de uma criança? Pelo contrário, educação é um campo de estímulos e descobertas. Quanto mais confiante, mais uma criança é capaz de desenvolver-se e viver plenamente sua condição humana.