"Como eu aguento vocês?!". Esta sentença arrematou observação feita por uma de nossas educandas ao conversarmos sobre o que significa educar. Infelizmente, alguns professores, sob estresse, fadiga e inúmeras pressões, soltam esses reclamos em meio a crianças que apenas experimentam suas descobertas do mundo. Quando imaginamos nosso projeto de promoção de leitura (Leituras e Descobertas do Mundo), ponderamos que ler é uma ação abrangente que potencializa inúmeras descobertas. Não somente tomar conhecimento das coisas, mas inspirar nossos juízos morais, ideias e ações. Ao ler reinventamos nossos mundos.
Ler e educar são ações indissociáveis! Impossível conhecer sem ler. Mas nada de conhecer pra fazer provas ou medir quantas informações uma criança acumulou. Conhecer é descobrir o mundo cognitivamente. Entender a matemática e suas inúmeras aplicações no mundo, inclusive como forma de expressar conhecimentos diversos (Geografia, História, Sociologia...). Compreender a linguagem como universo da vivência da humanidade. As diferentes sociedades representam-se e projetam-se para seus membros e para o mundo por meio da linguagem. Conhecer as histórias: do cotidiano aos processos macros...
Ler e descobrir mundos são duas sentenças inseparáveis. Aos lermos coletivamente o livro “Meu pai é uma girafa”, de Stephen Michael King, indagamos sobre as vivências e afetos das crianças com seus pais.
– O que o pai faz que vocês acham bacana?
– Me dá dinheiro!
– Me deu este carrinho.
– Joga comigo.
– O que é mais divertido em seus pais?
Um silêncio persistente que expressou, entre outras coisas, um estranhamento de ver o pai como uma figura de graças e alegrias.
– Que qualidade seu pai mais elogia em você?
– Quando tiro notas boas” (resposta única).
Em meio a essas respostas, indagávamos sobre o que é ser bacana e gentil, uma pessoa divertida ou sobre as inúmeras qualidades que constituem uma criança. Perceber-se num mundo repleto de possibilidades e resistências faz parte dessa aventura de ler e descobrir mundos.
“Você está vendendo livros?”. Sim. Pela enésima vez recebemos essa indagação. A ideia da gratuidade, benevolência, generosidade, altruísmo não é a primeira que vem à cabeça. Estamos habituados a crer que tudo ao nosso redor ou é para comprar ou vender. A sociedade de consumo dificulta vê outros modos societais. Por exemplo, ganhamos no último sábado um presente de uma avó: “minha neta aprendeu a ler aqui com o professor” (certamente que vários atores contribuíram para sua alfabetização, principalmente suas professoras escolares). A sociedade de solidariedade e trocas fraternas sempre existiu e persevera nos favores e gentilezas cotidianas. Este outro mundo precisa ser compreendido, vivido e propagandeado. Quando compreendemos e exercitamos a empatia, a fraternidade e a sabedoria, construímos um outro mundo.
Ao ler-viver descobrimos e experimentamos tantos mundos!!!
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