LER SEM EXPLICAR
- Humanismo Caboclo
- 27 de jun.
- 1 min de leitura

"Ela tem um cuidado que não dá pra explicar" - um comentário de Débora sobre o livro "Hello Kitty - animais de estimação". Ler sugere um cuidado com as palavras que não dá pra explicar. Trocar ideias também. Um comentário meu, na roda de conversa com os meninos da Escolinha Nova Brasília, provocou lágrimas em um dos meninos. A vida é mais delicada e intensa que conseguimos explicar.
Esta dedicação especial com as palavras movem os escritores. Hoje, reli o poema "Chuva", de Hindemburgo Dobal, ou, H. Dobal.
A chuva cata segredos
nas folhas vivas da tarde.
O leve passar do vento,
o lento passar do tempo
nas folhas vivas da tarde.
E a chuva a chuva,
as águas doces da chuva,
no lento apodrecer
das folhas mortas da tarde
vão despertando os segredos da vida.

"Folhas vivas da tarde" presenciam o "leve passar do vento" e "o lento passar do tempo". Assim, com o tempo, as folhas se fazem "folhas mortas da tarde" também sob ação das "águas doces da chuva" que, simplesmente, despertam "os segredos da vida". Ah, palavras que não consigo explicar como os poetas, mas trazem doce sabedoria como uma chuva que nos toca suavemente. Areia molhada de chuva exala um odor que também não sei explicar.

Mas sinto, envolvo-me, encanto-me, desloco-me pra um ponto do existir como este olhar de Débora. Só sei que estou comigo, absolutamente comigo.
A leitura potencializa estados de graça. Um envolvimento integral consigo pelos balanços da infinitude das palavras. Este é o convite da Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo.
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