
Como me relaciono com um livro? Que convite um livro me endereça? Ao observar as crianças em nossa biblioteca a céu aberto, penso nessa relação que tenho com os livros. Uma relação muito própria, mas, por outro lado, creio que haja algumas similaridades com outros leitores de literatura.

Primeiro, eu me desligo do cotidiano regular e controlado. Coloco-me num estado de abertura para o mundo que o livro me sugere. Estimular esse estado de disponibilidade para o mundo literário tem sido nosso esforço continuado com as crianças. Uma parte delas ainda toma um livro pelo volume de palavras e páginas. Outro grupo de crianças leitoras já compreenderam que o que importa são seus interesses como leitoras.
Ao viajar por esse mundo de palavras e ideias, percebo o quão longe posso ir. Geralmente, aprisionado à rotina e às questões cotidianas, esqueço-me do quão infinito sou a partir dos muitos mundos que conquisto. Quando leio me disponho a mergulhar no infinito que nos constitui. Um bom livro é uma contemplação da imensidão do mundo.

Terceiro, exercito um campo secreto de mim – o da imaginação e dos desejos essenciais. Imaginar não é distanciar de si. Pelo contrário, conheço-me verdadeiramente pois não cabem mentiras na imaginação tampouco proibições. Há você e tudo o que o toca em todo o seu existir. Há uma intimidade consigo que em poucas circunstâncias presencio.
Quarto, faço-me um contemplador do belo – nas palavras e na vastidão de seus significados. Escolho o sensível inefável. Abraço-me com a magia e a doçura. Consolo-me com a fantasia e encontros com outros. Rememoro minhas histórias. Desapego-me do imediato e aprecio o tempo. Faço-me infinito na solitude do meu universo íntimo.
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