POR QUE LER?

Por que, nos dias de hoje, lemos tão pouco? Metade de nossa população de crianças nunca leu um livro. Por quê? Como viver em plena sociedade da informação e do conhecimento sem ler?

Nosso último sábado, no Parque Wall Ferraz, poderia ilustrar essas informações. Neste ano de 2025, não conseguimos reunir mais que cinco crianças para ler. No ano passado, tivemos sábados com vinte crianças.

Professores não leem (ou leem pouco). Pais menos ainda. As palavras estruturadas em composições fabulosas e criativas estão perdendo o encanto? Como reencantar crianças para o mundo das palavras, ideias e imaginação?

Uma criança indagou se não podíamos fazer mais brincadeiras. Explicamos que a razão de ser de nosso projeto é a leitura. Hoje, reflito que sua ideia, talvez, espelhe uma prática corriqueira nas escolas, mas também no senso comum, onde tudo precisa ser lúdico e divertido. Como se o mundo das narrativas, em si, não fosse divertido e fabuloso.

A solitude do leitor é tomada como impensável ou indesejável. Retirar-se do tempo de respostas fáceis e prazeres efêmeros não é mais aconselhável ou desejável. Pelo contrário, indicaria uma personalidade triste ou, talvez, uma pessoa mentalmente adoecida.

Não é o que vejo com as crianças que resistem a essas tendências voláteis. Elas são gentis, perspicazes, engraçadas e extremamente capazes. Sofia levou seu caderno escolar somente para mostrar seu texto onde reescreve o conto de fada da Bela Adormecida. Um texto articulado e criativo. E, por trás do caderno, um olhar vivo e orgulhoso. Ou o que dizer dos textos de Adão? Sempre instigantes e fortes.

Por isso, essas crianças leem. Pela leitura constroem uma história singular e essencial.